Economia, cultura, política e outras características de Carinhanha - BA

Carinhanha é uma cidade que, conforme o relato do historiador nativo Honorato Ribeiro, vive da pesca, da lavoura e da pecuária, sendo essas três atividades ainda predominantes. O comércio é reconhecidamente "fraco", pois ainda não gera aquilo que pode ser considerado como desenvolvimento social massivo, e a política - no dizer de Honorato - "ainda é de coronel".

"De coronel", porque funciona, em pleno século 21, primeira década dos "anos 10", da seguinte forma: "quem está no poder e quem for empregado da prefeitura terá de acompanhar e votar nos candidatos do prefeito (a), senão perde o emprego. Ainda existem os cabos eleitorais e o povo é ferrado como gado, não tem liberdade de opção".

Somos levados a discordar em parte do grande historiador. Isso não acontece apenas em Carinhanha. Até porque, convenhamos, neste país existe opção de bom político?... Podemos até tentar mudar pelo voto, como fazemos periodicamente, mas mudanças significativas no Brasil ainda são muito singelas. Infelizmente, a "arma do voto" ainda não conseguiu nos livrar dos petrolões, mensalões, maracutais, propinodutos e outras mazelas.

O progresso deCarinhanha, continua a relatar Honorato, só veio começar no ano de 1977: Água encanada pelo SAAE, luz elétrica vindo da SEMIG, depois de SOBRADINHO (atualmente, a Coelba detém esse monopólio), sinal de televisão, telefone fixo, calçamentos, prédios públicos, como grupos escolares, creches, prefeitura (existia em prédio alugado), prédio do fórum, casa do juiz, prédio da Câmara de Vereadores, prédio do Banco do Brasil, hospital, SESP, FUNDEB, SUS, PSF, clínica de saúde, consultórios odontológicos, laboratórios, cerâmicas, faculdades, farmácias, duas estações de rádio: Pontal FM e Rádio Cidade, casa do ATELIÊ, onde Jota Vieira expõe os seus trabalhos feitos de argila (figuras de estátuas e pinturas).

Outra marca inegável de progresso para a cidade foi a construção da ponte sobre o rio São Francisco, que liga o município de Malhada ao município de Carinhanha, inaugurada em 2010.

Existem dois sinais de internet (duas empresas de conexão, que cobram, infelizmente, um preço super abusivo por um reles serviço), Lan House, sinal do VIVO – celular e da Claro. Há também dois sindicatos: dos lavradores e dos servidores públicos.

Carinhanha foi mais desenvolvida da década de 1940 a 1960. Havia duas filarmônicas, dois clubes que promoviam carnavais com rainhas, princesas, rei momo e carro alegórico e bailes mensais para os sócios. Havia duas linhas de avião: A VARING E A SADIA; coletoria federal, estadual, IBGE, 40 vapores que partiam de Juazeiro e subiam cheios de passageiros até Pirapora, da Navegação Mineira e Baiana, do rio São Francisco.

Nesse período de ouro (40 a 60 do século passado) sempre saltavam aqui turistas do exterior, nos tempos desses vapores. Havia também a COMISSÃO DO VALE DO SÃO FRANCISCO, hoje, CODEVASF; duas usinas de beneficiamento de algodão e arroz; vários depósitos de algodão, mamona, maniçoba, pele de boi (couro) e de peixe.

Tudo isso desapareceu.

Hoje, há VANS e ônibus que transportam gente todos os dias, de segunda a sábado, para compras e outras demandas em Guanambi (porque o comércio local ainda é muito pobre e vende mais caro). Outros vão para tratamento de saúde.

O problema de Carinhanha, na visão de Honorato, é genuinamente político, pois quem exerce o poder não tem visão de progresso e de desenvolvimento. A cidade é banhada por dois rios: O São Francisco e o Carinhanha, que divide Minas com Bahia. A maior riqueza da cidade, porém,  não é bem aproveitada para cultivar, por exemplo, tomate, pimentão, cebola, uva, laranja, manga, beterraba, cenoura, abacaxi, banana, etc. Tudo isso vem de Guanambi, que não tem rio, mas é "centro comercial" (se comparado com Carinhanha, claro).

Nego d'Água, Juazeiro

Carinhanha é rica culturalmente, embora até não pareça, em um tempo em que estamos cercados e impregnados por tecnologias e outros atrativos. É uma cidade folclórica. Existe a lenda do compadre d’água, a mãe d’água, a serpente no fundo do rio São Francisco. Há também as lendas do lobisomem, da mula-sem-cabeça, da porca que vomita fogo.

Os folguedos: reis de boi, contra dança, ternos, mulinha de ouro, reis de caixa e lamentação das almas. Havia dois cines: Cine Real e Cine Carinhanha,com apresentação de programas de calouro e teatro.

Tudo se acabou...



É, senhor Honorato, a máquina do tempo não para...




Edição com informações do acervo digital de Honorato Ribeiro, disponível em http://cidadecarinhanha.blogspot.com.br/